Eu tinha duas avós, a Elisa, de Lisboa, e a Maria, de Oiã.
A minha Avó Elisa morreu quando eu tinha 3 anos, no entanto é daquelas presenças sempre constantes na minha vida, mesmo antes de eu viver na minha casa actual, que era a dela.
A minha Avó Maria foi, até há poucos anos, uma presença menos constante na minha vida, por um lado devido à distância física que nos separava, por outro devido à pouca atenção que me dedicava, atenção essa que tinha que ser dividida pelos 13 netos.
Quando em 1999 os meus pais foram vivier para Oiã, a minha Avó Maria tornou-se mais presente na minha vida, devido às visitas mais (ou menos) regulares que passei a ter que fazer a Oiã. E foi assim que descobri uma pessoa peculiar dentro daquela figura que sempre tratei de forma mais ou menos formal por Avó.
Conhecida na família como uma mulher rija, de "pelo na venta", ideias fixas e até ditadora, a minha Avó Maria não tinha pena de matar os coelhinhos à paulada, degolar as galinhas - o que horrizava os netos de Lisboa. A minha avó Maria nunca entendeu porque é que a minha prima C. tinha um coelho de estimação se ele não servia para comer, e porque raio é que os meus pais gastaram dinheiro a trazer dois gatos de avião para Portugal se cá gatos não faltavam.
A minha Avó Maria cheirava ao forno de lenha da cozinha velha, bebia sempre vinho tinto às refeições, tinha um buço que picava, as bochechas rosadas e sempre a conheci de avental vestido.
Sempre foi muito devota à Igreja, de tal forma que quando os meus pais casaram pelo civil ela não apareceu no casamento, e sempre fez questão de demonstrar o seu desagrado pelo facto dos meus pais nunca me terem baptizado a mim e ao meu irmão.
Sofreu a morte de alguns filhos, mas o declínio desta mulher-furacão começou quando morreu o meu Avô Zé, companheiro de uma vida.
Foi uma luta enorme para convencê-la a sair do casarão agora vazio, frio e a cair aos pedaços onde viveu toda a vida com o meu Avô. Foram precisas 2 quedas e um ataque cardíaco para a minha Avó Maria perceber que era impossível continuar a viver sozinha.
Faz 87 anos no próximo dia 10 de Dezembro e continua "à espera que Deus a leve", porque não entende o que é que está "cá" a fazer, se o meu Avô "já lá está".
Hoje em dia, de cada vez que a vejo, noto os dias, semanas, meses e anos a passarem por ela. Parece-me mais pequenina e mais distante. Não é nem metade do que era.
Antigamente, quando o meu Avô ainda era vivo, no tempo em que só a via nas férias do Verão, depois de me dar uns trocos "para os tremoços" dizia-me sempre à despedida: "Ai filha, secalhar para o ano já não me vês". Ao que eu respondia: "Oh Avó, que estupidez".
Agora quando nos despedimos não diz nada.
Já não precisa...porque eu sei...
3 comentários:
:(
E é nessas alturas que damos todo o valor do mundo a todos os mais infimos momentos que passámos com as pessoas por quem sentimos estima e carinho.
:( Sabemos que faz parte, mas custa sempre... Beijinhos para ti!
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