sexta-feira, junho 20, 2008

A Arte, a Fé e a Moda
Entretida a olhar para a montra de uma galeria de arte super-fashion que tinha uns quadros lindos, sou abordada por uma Senhora toda coquete e um Senhor bem vestido com uma pasta na mão.
Senhora - Boa tarde, posso fazer-lhe uma pergunta?
Mia - Boa tarde! Pode, claro!
A pensar "Caramba, estou mesmo lá! Esta gente chique acha que eu tenho ar de entendida. Merda, porque é que não tenho uns óculos de massa na mala para poder impressionar esta fauna vanguardista?", saquei logo do meu sorriso inteligente e franzi as sobrancelhas para dar um ar de interesse.
Senhora - Acredita que podemos viver felizes para sempre neste mundo?
Mia (sobrancelhas arquearam) - Como?!
Senhora - Se acredita que podemos viver felizes neste mundo, eternamente!
Olhei para ela com ar de Bambi e de seguida para o Senhor que me sorria, enternecido com a minha confusão.
Mia - Desculpe, não estou a perceber...
Senhora - O Lívro Sagrado diz que podemos. E a menina, acredita que é possível?
Sem conseguir fechar a boca voltei a olhar para o Senhor que continuava com a boca congelada naquele sorriso que agora me parecia doentio, com o olhar fixo em mim. Ainda virei a cabeça para os quadros - lindos, caríssimos, - baralhada, e quando olhei novamente para a frente, a Senhora tinha sacado uma Bíblia da mala D&G e procurava freneticamente uma passagem do texto.
Senhora - Aqui mesmo! Quer ler este parágrafo, por favor?
Mia - Eu? Mas eu.. Ok...
Li o parágrado que agora não sei reproduzir.
Mia - Pois...
Senhora - Vê, aqui está a prova que afinal é possível não só viver eternamente neste mundo em que estamos, como em armonia e paz total! Não é maravilhoso?
Mia - Então não é?... É espetacular...
Pensei em dizer-lhe que poderia arranjar-lhe mil livros que dizem exactamente o contrário, ou até escreve-lo eu mesma num guardanapo de papel e mostrar-lhe, mas achei que o mais certo era acordar no dia seguinte numa garagem, enfiada numa banheira cheia de gelo, intrigada com uma cicatriz na lombar que nunca tinha reparado!
Senhora - Este assunto é do seu interesse?
Mia (com a voz a tremer) - É é, eu penso muito nisto!
Senhora - Então tenho umas revistinhas para lhe oferecer com artigos científicos que falam exactamente deste tema! Se concordar fazemos assim: lê as revistas, pensa sobre o assunto, e no fim-de-semana encontramo-nos aqui para falar um bocadinho sobres isto. Acha boa ideia?
Mia (muito depressa) - Acho, acho! Combinadíssimo!
Senhora - Sábado, ou Domingo?
Mia - Sábado, Sábado!
Senhora - A que horas?
...
Bom, eu sei que não devia ter medo destas abordagens, afinal trabalho no Holmes Place! Mas sou um bocado mariquinhas e estas pessoas com fé em frases de livros assustam-me sobremaneira! Na noite do encontro d´O Segredo, no Pavilhão Atlântico, fiz questão de não sair à rua e se souber que alguém do meu círculo de contactos lá esteve sou gaja para desatar a fugir pela calçada fora aos berros de braços no ar a-dar-a-dar!
O que me enerva é ter sido apanhada nesta esparrela, porque antigamente sempre que via duas velhotas juntas de óculos enormes, saquinho do Pingo-Doce em riste e caneta na mão fazia questão de passar para o outro lado da rua para não ser abordada. Agora caríssimos, fica o aviso, parece que o dress-code mudou e já nem em pessoas com malas D&G se pode confiar!

6 comentários:

Anónimo disse...

Aqui pelos meus lados, encontro muitos.. mas já não lhes dou hipotese de me dirigirem mais que duas palavras.

CHATOS!!

Cylon disse...

trabalhas em que holmes place? eu frequento um na volta ja te conheço ehehehe ;)

Anette disse...

Onde tu te meteste melhér!

Lunatic on the grass disse...

boa tarde, posso fazer-lhe uma pergunta?

Anónimo disse...

Pois, essa das velhas já era!
Já nem na "província" se usa quanto mais em Lisboa.
Um destes dias fui abordada por duas raparigas que ainda nem 30 anos deviam ter, uma com uma mini saia vertiginosa e a outra com um cabelo cheio de madeixas vermelhas...bem, apercebi-me mais rapidamente mas fiquei completamente apalermada a olhar para elas!!!

banana disse...

que risada!
muito bom... ainda ia a meio e já chorava.
tb tenho pouca sorte c abordagens na rua... e nunca sei cm reagir. e sim, tb tenho MUITO medo dessa gente.