É terrível quando nos morre alguém querido. Quando morre alguém que não nos é assim tão próximo, é só estranho. Tem-se um pesar diferente, não nos arranca o coração, mas toca-nos. Por algum motivo, a morte do Eduardo Prado Coelho tocou-me.
Foi meu Professor de Cultura Contemporânea e eu achava-lhe graça. Achava-lhe muita graça! Embora houvessem rumores que a alcunha de "Bolinha Semiótica" o incomodava, penso que lhe assentava que nem uma luva. Quando se sentava na cadeira à nossa frente, as calças subiam acima dos calcanhares e mostrava as meias de homem, às vezes descaídas, e um bocado das pernas muito brancas. É assim que o imagino sempre. Falava do pai, de França, dos tempos loucos com a Marguerite Duras e o seu amante, de livros, dos amigos, de casamento, de filosofia, de restaurantes e de mil coisas. De tantas coisas que já nem me lembro. Contava histórias. Oferecia livros repetidos. Gostava das alunas bonitas que se sentavam na fila da frente.
Tive 17 na frequência, das notas mais fáceis que tirei na faculdade, porque ele aceitou que escrevesse sobre Macau. Um dia gostava de ir a Macau, disse-me.
A partir daí, porque demorei a acabar a faculdade, encontrei-o durante muito tempo nos elevadores, corredores, no bar, e ele lembrava-se de mim. Chamava-me Chinesinha.
Nunca fui almoçar com ele ao "Atira-te ao Rio", nunca tomei café com ele na "Versalles", nunca me ofereceu nenhum livro, mas por alguma razão a morte de Eduardo Prado Coelho tocou-me.
Se calhar porque nunca chegou a ir a Macau.
7 comentários:
Olha, eu cheguei a ficar com um livro :)
Também me referi a ele como "Bolinha Semiótica" este fim de semana.
Também comentei o episódio das alunas bonitas.
Também me lembrei da nota simpática (um 16), quando descobri sobre o "Disponível para Amar".
Também não tive direito a livro.
Não lhe achava uma piada desmedida, mas fez-me confusão saber que morreu...
o bolinha, pá...
Não conheci tal senhor. Nem creio que tivesse ouvido falar dele (pelo menos o nome não me traz nenhuma ideia)
Ouvi ontem da morte dele mas foi-me meio indiferente.
A mim tocou-me o teu post.
Sim. O post.
Acho que fica a magoa de sentir que ele tinha muito mais para dar.
foi a macau, sim. detestou.
Pois, já ouvi dizer!
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