segunda-feira, maio 07, 2007

À Chuva
Hospital. Tão cedo e já cá está tanta gente. Entrar, esperar, levantar, sentar, voltar a levantar, fumar um cigarro lá fora porque nem no bar se pode fumar a porra de um cigarro. Há gente que morre a outra gente que nem um cigarro pode fumar. Só lá fora, à chuva. Fascistas da merda. O puto da cama ao lado tem uma mãe nervosa e um pai que (des)espera lá fora. Tem quatro anos o puto, e arde-lhe a pilinha quando faz xixi. Vai ser circuncidado e não entende. Daqui a dois anos nem se vai lembrar como era fazer xixi com dor. Mas os pais vão lembrar-se com certeza do que foi aquela hora de espera. Não é grave, mas é como se fosse. É o hospital e o miúdo não conhece ninguém.
A outra senhora tem a mãe à espera de ser operada. Caiu e a idade não perdoa. A médica disse-lhe para ir dar uma volta, espairecer, que o nervosismo não adianta de nada. A senhora foi e voltou logo de seguida com a perna esquerda em sangue. Caiu. Como a mãe. Foi pior a emenda que o soneto.
Não pode estar aqui a passear, se quiser sente-se ali na cadeirinha, fiz um sorriso amarelo à enfermeira e fui fumar mais um cigarro à chuva. Ou comer um bolo, não me lembro. Lembro-me de ter ficado mal disposta e de ter bebido uma água com gás só temos Vidagos quente. Fiquei pior e fumei outro cigarro. Já não chovia.
Voltei a sentar-me nas escadas do 1º piso e estava uma senhora ao telemóvel Sabes onde estou? No hospital a visitar o Mário. Pois, nem imaginas, no sábado fizemos 60 km de bicicleta a subir e descer montes, e a 50 m de casa o gajo deu uma palhaça de todo o tamanho. Vê lá, a 50 m de casa, ele há ironias... pois... não, é que ele até se levantou, parecia que não tinha nada partido, tinha só muitas feridas na cara e nas costas, nem queria acreditar quando ele me apareceu à frente... sim, na maior... mas depois à noite tinha sangue na urina e parece que furou o rim...
Voltei a entrar no corredor das macas e sentei-me na cadeirinha. O puto já tinha voltado e estava a chorar. Esperei. Fechei os olhos e os desenhos animados da Dois entravam-me nos nervos. Que estupidez! É uma operação de merda! Sou tão descontrolada... quando tiver filhos o mais certo é morrer e pronto! Se ao menos o puto se calasse. Cala-te puto! Cala-me essa boca! Vou fumar um cigarro. À chuva.

1 comentário:

Mariana disse...

E a operação é a quê pode-se saber? Bem seja importante ou não eu também stresso com qualquer coisa. E quando entro em hospitais a coisa piora. Acho que tenho aquele efeito condicionado que quando cheiro éter o meu pulso acelera... ;)