quarta-feira, maio 12, 2010

Um abraço



A presença da minha mãe não está confinada às estórias que contamos sobre ela, à aliança na minha mão direita ou às fotografias nas molduras lá de casa.
A maior parte das vezes é reconfortante. Como quando me olho no espelho e vislumbro o rosto dela no meu, como uma espécie de aparição, ou quando a minha gargalhada sai surpreendentemente cristalina como a dela, ou quando reparo que tenho o mesmo tique que ela a fumar e os meus dedos, depois de poisarem o cigarro na boca, o largam por um instante quase imperceptível, enquanto inspiro o fumo.
Outras vezes é esmagadora. Como no outro dia, na fila do supermercado. Atrás de mim estava uma mãe com um filho de 12 ou 13 anos e conversavam descontraidamente enquanto punham as compras no tapete rolante. Às tantas, a mãe puxa o miúdo e dá-lhe um abraço terno, seguido de um beijo na cara e de um "a mamã gosta muita de ti". O miúdo, meio envergonhado, dá-lhe uma festinha na cara e diz "eu sei mãe". Sentindo-se observados por mim e pela rapariga da caixa, que sorria com a ternura, continuaram a conversa sobre o que fazer para jantar.
Aquela mãe tinha o olhar da minha, quando dizia ao meu irmão "amo-te". E aqueles braços eram os mesmos que o apertavam contra o peito e lhe seguravam a cara para a encher de beijos. E num segundo, os meus olhos queriam rebentar de lágrimas e a garganta explodir num grito.
Está tudo bem, perguntou a rapariga da caixa.
São alergias, respondi eu.
A mãe do miúdo sorriu para mim. Ela sabia.

8 comentários:

FM disse...

Força*

As mães são especiais, são únicas e chatas ao mesmo tempo. Mesmo quando não estão. Quando a minha chegar a casa vou dar-lhe um grande beijo.
Obrigado :)

Raquel disse...

Gostei do seu post. A minha mãe foi embora há 3 semanas, e o meu coração ainda não parou de gritar, e ainda não me deixou sentir nada que não me desse vontade de me enrolar a um canto e chorar. Tenho esperança que um dia destes também comece a conseguir sentir algum conforto nas minhas recordações.
E que pare de começar a chorar nos locais mais estranhos pq vi algo que me lembrou de alguma coisa.
Portanto.. fico à espera.. Mas o q eu queria mesmo era um abraço da minha mãe.

Marta disse...

Foi a primeira vez que a vim visitar. E gostei muito. Vou voltar...
E já liguei à minha mãe a dizer que gosto muito dela. Tenho sempre medo que algo bom fique por dizer...

Um beijinho

Mia disse...

Marta,

:)

Unknown disse...

Como te compreendo...) vou voltar.

Guida

Carla Santos Alves disse...

Chego aqui hoje pela primeira vez e começo a chorar...de emoção pelo que li...
Sou mãe de 3 com quatro a caminho, e na nossa casa os afectos também se demostram SEMPRE.

Bjs

patricia disse...

Ai Mia, Mia. Primeiro: qdo tiver uma filha chamo-a Mia, sabes? É o meu nome preferido de rapariga. e digo-lhe que a amo muito tb. Segundo vejo o teu blogue ha anos, incluindo quando a tua mae morreu, e comoves-me mesmo, sou mesmo fã. Eu sou doente pela minha mae, por ela ja desisti de emigrar, de tanta coisa, e nao me arrependo, so para estar com ela. Acho-te muito forte e muito especial. So queria que soubesses. Beijos Patricia

Anónimo disse...

Primeira vez que leio o blog e tive de me conter para não chorar com este post... achei apenas que devia saber disso. Obrigada (?)